quarta-feira, 14 de outubro de 2009

ESTATUIR A MELHOR AVENTURA (3)




“Sob a direcção de um forte general, não haverá jamais soldados fracos” (Sócrates).


Capitão; em circunstâncias de carácter “amador” a escolha do capitão é fundamental, já que é a ele que lhe cabem deveres muito mais abrangentes do que em circunstâncias mais “profissionalizadas”.

Assim, este capitão é um gestor (operacional), psicólogo, treinador e jogador.

Mais uma vez, a nossa escolha deve ser a resposta a uma questão; que tipo de liderança desejamos para nossa equipa? Ou, recuando mais um pouco, que modelos de liderança existem e qual a que desejamos.

Liderança é o processo de conduzir um grupo de pessoas, transformando-as numa equipa que gera resultados. É a habilidade de motivar e influenciar os liderados, de forma ética e positiva, para que contribuam voluntariamente e com entusiasmo para alcançarem os objectivos da organização.

Estilos de Liderança;

Liderança autocrática: Na Liderança autocrática o líder é focado apenas nas tarefas. Este tipo de liderança também é chamada de liderança autoritária ou directiva. O líder toma decisões individuais, desconsiderando a opinião dos liderados.

Liderança democrática: Chamada ainda de liderança participativa ou consultiva, este tipo de liderança é voltada para as pessoas e há participação dos liderados no processo decisório.

Liderança liberal ou Laissez faire: Laissez-faire é a contracção da expressão em língua francesa laissez faire, laissez aller, laissez passer, que significa literalmente "deixai fazer, deixai ir, deixai passar". Neste tipo de liderança as pessoas tem mais liberdade na execução dos seus projectos, indicando possivelmente uma equipe madura, auto-dirigida e que não necessita de supervisão constante. Por outro lado, a Liderança liberal também pode ser indício de uma liderança negligente e fraca, onde o líder deixa passar falhas e erros sem corrigi-los.

Liderança paternalista: O paternalismo é uma atrofia da Liderança, onde o Líder e a sua equipa têm relações interpessoais similares às de pai e filho. A Liderança paternalista pode ser confortável para os liderados e evitar conflitos, mas não é o modelo adequado num relacionamento profissional, pois numa relação paternal, o mais importante para o pai é o filho, incondicionalmente. Já em uma relação profissional, o equilíbrio deve preponderar e os resultados a serem alcançados pela equipa são mais importantes que um único indivíduo.

A estas eu adicionaria outra com as seguintes características: um líder focado nas tarefas, que toma decisões com há participação dos liderados e que superintende as tarefas delegadas com alguma liberdade. Chamar-lhe-ia, Liderança auto-democrática-liberal, sendo neste cocktail que recairia a minha escolha.

No que concerne ao nosso espaço (Portugal), verifico que dominam os tipos de liderança autocrática e liberal. A autocrática trará muitas vezes as famigeradas expressões auto comiseradoras - “ele tem algo contra mim” – “ele faz o que quer” – “ele decide mal”, no que se refere a liderança liberal as expressões serão qualquer coisa como - “ele não quer saber” – “ele não decide” – “ele não faz nada”.

É exactamente no inicio de cada manifestação, ou seja no “ele”, que reside o problema, a liderança não pode residir num “ele” o culpado da derrota ou da vitória não pode ser – nunca – um “ele”.

A parte gestora do capitão deve presentear os seus “soldados”, com regras pré-estabelecidas que desoneram o “ele” da toma de decisões que influenciam directamente a parcela emocional dos jogadores. A regra é clara e todos optamos por ela, não foi “ele” que tomou a decisão, entendido?

Agora, este capitão terá espaço para preocupar-se com a parte emocional da equipa (no entender de muitos, responsável em 90% dos casos vitoriosos) é o estado emocional que indicará que tipo treinos deverá efectuar e quando, que tipo de jogadores deverá utilizar em cada momento e que tipo de liderança deverá abordar nesse tempo... porque existem circunstâncias que obrigam a uma postura autocrática e até paternalista.

To be continued

4 comentários:

Nuno Pedrosa disse...

Olá Raul,

Parabéns sobre o teu blog. Tenho gostado de uma forma geral dos teus posts. E os posts são sem dúvida bem mais apreciados e admirados quando vêm de alguém como tu, que fala com experiência própria e bons resultados.

Em todos noto, no entanto, uma tentativa de diferenciar e comparar o profissional do amador, o objectivo explicito do objectivo implícito, o estilo de liderança mais ou menos profissional do mais amador, como se estas variáveis fossem estados dependentes da vontade dos iniciadores dos projectos, organizações, etc.

Acho que não é assim. Acho que todas estas características das organizações, correspondem a estádios do crescimento e do desenvolvimento das organizações, e todas podem ser adequadas em determinada altura e em determinadas circunstâncias.

Os estilos de liderança que falas hoje, correspondem a uma grelha. E essas são as suas 4 notações extremas, em eixos que têm como medidas a orientação para as tarefas ou para o indivíduo (assim o estilo adicional que referes existe como uma mistura de uma pessoa orientada para a tarefa mas com preocupações com os indivíduos).

Um grupo de 6 ou 7 jogadores não pode ser tratado da mesma forma que 20 ou 30.
Um pequeno grupo de jogadores não se senta numa mesa e estabelece objectivos, delineia estratégias, etc. Não iría a lado nenhum seguramente. Da mesma forma um líder task oriented não iria conseguir nada neste ambiente, onde a diferenciação (resultante dos factores de poder)é praticamente nula. Um líder mais próximo dos elementos conseguiria bons resultados, ou então depende do grupo...

O que me parece acima de tudo é que estas coisas surgem e vão fazendo parte do dia a dia. Quanto mais complexa se torna a organização, maior a necessidade de articular (explicitar) objectivos, culturas, etc. Maior a necessidade conseguir comunicar de forma harmoniosa.

É comum confundir-se planos com estratégias. A estratégia (e objectivos que dela decorrem) têm mais a ver com acções e resultados orientados sempre numa determinada direcção quando as organizações são pequenas.

Numa coisa estou totalmente de acordo contido (ou com o Sócrates original): não existem maus soldados, existem maus generais.
Mas os líderes apenas são escolhidos quando as organizações se comportam como verdadeiras organizações. Até aí os líderes impôem-se, constroem-se e desenvolvem-se.

My 2 cents e sem tempo para revisão por isso pode andar muita asneira aqui no meio.

Abraços,

Nuno Pedrosa

Raúl Tavares disse...

Olá Pedrosa,

Antes de mais, obrigado por seres leitor do blog.

Gostava de te felicitar, por ser o primeiro comentário pensado e não concordante com algumas coisas, até pq como ambos sabemos só se constrói discutindo e as vezes digladiando.

Digladiemos então alguns pontos:
“tentativa de diferenciar e comparar o profissional do amador”… sim, pq acredito piamente que somos amadores e muito, que não iremos conseguir a profissionalização com uma tentativa de copy/paste (até pq é impossível) e que o caminho deverá ser uma mistura ponderada tendo o mínimo por base. E na maior parte dos casos (em Portugal) o mínimo por base são 7,8,9 ou 10 indivíduos que formam uma equipa.
É aí que eu acho que existe amadorismo a mais e má formação, pq não haverão de tentar ir por um caminho mais amador (não é erro, nos nem temos os comportamentos desportivos básicos de muitos desportos amadores).
“Um grupo de 6 ou 7 jogadores não pode ser tratado da mesma forma que 20 ou 30.
Um pequeno grupo de jogadores não se senta numa mesa e estabelece objectivos, delineia estratégias, etc”
Neste ponto concordo contigo, de aí eu ter escrito que tem que existir uma organização (ver post’s anteriores) e não confundir com o actual post que aborda a escolha do capitão unicamente. Volto a concordar que não podemos tratar da mesma forma todos os jogadores ou equipas, isso estará implícito na escolha dos objectivos. Se tenho uma organização com 40 atletas e 4 equipas com objectivos diferentes, cada uma delas harmoniosamente deverá traçar o seu caminho e impor as suas regras ou pura e simplesmente a falta delas e abordar o tipo de liderança ou não. Quero ter uma equipa no Top? É disso que se trata neste espaço e é sobre isso que eu opino. Temporariamente quero juntar um grupo para me divertir jogando ou até quero levar isto mais a serio mas sem grandes objectivos? Não tenho abordado esse assunto. Lembra-te que neste último post, abordo os tipos de liderança para um capitão de uma equipa que tem por objectivo ganhar no nosso espaço, não para um clube?
“E os posts são sem dúvida bem mais apreciados e admirados quando vêm de alguém como tu, que fala com experiência própria e bons resultados”.
Tinha exactamente a mesma opinião quando chegava a casa com a taça dos últimos e 30 ou 40 hematomas, alias, foi a ânsia por aparecer em casa sem os ditos hematomas que me fez começar a indagar sobre estes assuntos.
Nota final: concordando ou não, apreciei muito o teu post e espero que atraia mais comentários discordantes mas bem construídos como foi o teu.
Abraço,
Raúl

Nuno Lourenco disse...

Olá Raul,

Primeiro deixa-me só felicitar o Pedrosa, que há muito tempo não vejo, mas por quem nutro o maior respeito, e considero como um dos marcos do PB nacional.

Mas seguindo o post, eu felizmente ou infelizmente só fiz parte de uma equipa, mas na mesma já tive vários tipos de liderança, e por incrível que pareça a que melhor resultados e menos problemas deu foi precisamente a Liderança Autocrática. Claro que é sempre bom para o orgulho pessoal sermos ouvidos e termos poder decisivo em aspectos fulcrais na equipa em que jogamos, mas por vezes ouvir todas as pessoas traz outro tipo de problemas. nesta tipo de liderança o que senti foi um acreditar pleno no discernimento do Líder, quem acreditou ficou ate ao fim, quem não acreditava ou discordava, tinha a hipótese de sair. Talvez fosse uma visão um tanto retrogada, mas a verdade é que resultava.

Neste momento estamos a passar pela quarto tipo de liderança, aquela a que tu apelidaste de Liderança auto-democrática-liberal. Ou seja, ouvimos todos os atletas, ponderamos todas as hipóteses, mas e, grande parte a decisão é do líder.

Entre maus generais e maus soldados, divido a culpa, podemos ter o melhor general, mas se tivermos soldados desmotivados, e sem vontade para "dar o litro" ao lado do general não há divisas que safe a equipa.

abraços
Nuno OSSOS

Raúl Tavares disse...

Olá Ossos,

Antes de mais desejo a melhor das sortes ao S.L.B nesta última prova do Millennium-series na Turquia é um orgulho ter uma equipa portuguesa na liderança CPL.

Obrigado pelo teu post claro e directo.

Certezas no que concerne ao tipo de liderança? Uma só… uma boa liderança é fundamental, neste ponto todos concordamos.

Argumentar sobre o tipo de liderança com a equipa campeã nacional (já nem sei bem quantos anos consecutivos…) e com provas dadas a nível internacional (sim, pq o millennium não são só equipas europeias) não é tarefa fácil.

Mesmo assim, no teu post, vejo claramente uma variação no tipo de liderança, sem terem desaparecido os resultados, diria até que os resultados foram reforçados e o futuro também.

Pelo que decifrei, passaram de uma liderança autocrática para uma liderança mais próxima da auto-democrática-liberal, agora especulando… possivelmente o fizeram pelos mesmos motivos filosóficos que todos os “povos” o fizeram/fazem… mal-estar do “povo” que nos pode levar a rebeliões internas e consequente perca de resultados.

O líder é líder porque tem que decidir. Não tenciono exonerar o líder da toma de decisões, agora, o líder para não se tornar ditador, déspota ou tirano, deve estabelecer regras escolhidas democraticamente no seio da equipa. Deve atribuir responsabilidades (liberal) e exigir (liderar) que sejam cumpridas.

Vamos ser um pouco mais rebuscados… se democraticamente é aceite que tudo seja decidido pelo líder da forma que o líder desejar e no tempo que ele desejar, só bons/óptimos resultados darão credibilidade ao líder, ao menor percalço o líder será posto em causa. Sé democraticamente se escolherem regras supervisionadas pelo líder o que ficará em causa é a organização e o método.

Dividir a culpa entre general e soldados? No capítulo 2 de estatuir a melhor aventura escrevi… “Obviamente que faculdades como a superação, ambição o suportar a pressão psicológica e a solidariedade, devem ser obtidas no perfil tipo dos jogadores (entenda-se na escolha dos jogadores), para posteriormente serem trabalhadas e intensificadas. É extremamente difícil criar estas capacidades em quem não possui propensão para as mesmas…” brevemente irei abordar este ponto e se nesta escolha o general ou generais escolhem mal é pq não são generais fortes.

Abraço,
Raúl