sexta-feira, 13 de novembro de 2009

ENTREVISTA EXCLUSIVA "vejo o Nuno como um elo de ligação entre todos"

Hoje, o Tinta Lusa dá o privilégio aos seus leitores de poderem ler a primeira entrevista exclusiva com um jogador do S.L.B após a brilhante vitória em S.P.L (Millennium-Series-2009). Assim, teremos na “primeira divisão” da maior prova efectuada na Europa, um representante português e é assim que Nuno Lourenço, mais conhecido com o nome de guerra “Ossos”, fala-nos do trajecto recente do S.L.B e de alguma forma intimista destapa o véu para espreitarmos onde reside o segredo de tanto, tanto e tanto sucesso.


Tinta Lusa:
Iremos iniciar esta entrevista pelo fim… Após teres digerido a vitória em SPL, ou seja quando estavas sozinho e pensando no percurso brilhante que efectuaram, a que conclusão chegaste?
Ossos:
A digestão de vitórias como esta é sempre fácil, mas não podemos deixar as coisas passarem em vão. Eu tenho por hábito analisar todo o evento no caminho para casa, neste último tive imenso tempo entre aeroportos, aviões e escalas. Mas ponho nos pratos da balança o que ganhei e o que perdi.
O resultado, claro que foi positivo, ganhar SPL é de facto um feito único para nós e estar em CPL com uma equipa portuguesa é tão bom para nós como para o Paintball nacional.
Mas o que perdi também não deixa de pesar. Gastamos muito dinheiro, perdemos muitos fins-de-semana a treinar, dias de férias para ir aos Millenniuns, tudo isto pode parecer pouco, mas depois de 5 anos em que só faltei a 2 eventos, faz uma mossa bem profunda.



Tinta Lusa:
Sentes-te desgastado de alguma forma? Seja física ou psicologicamente?
Ossos:
Fisicamente pareço um senhor de 60 anos, os meus joelhos estão uma lástima, todas a provas são feitas a base de analgésicos. Psicologicamente penso que seja um bocadinho desgastante, já que é difícil estar longe do nosso lar durante 4 dias, há quem pense que são férias, mas de férias tem muito pouco, é preciso saber lidar com a pressão aturamos coisas que se calhar noutra altura não aturávamos e tentar gerir os escassos recursos financeiros… mas em contra partida ganhamos camaradagem o sentimento de união e família que dura toda a vida e que é o que realmente ganha jogos.




Tinta Lusa:
Já que “tocas” na parte emocional, ao nível de jogadores portugueses quais foram os que fizeram toda a campanha?
Ossos:
Eu o Hugo, o Gustavo (espanhol), o Tiago Coelho faltou a uma e o Miguel Franco a outra o Gil foi a uma prova. É muito importante irmos todos e sempre os mesmos para garantirmos coesão, visto que já estamos jogar com dois outsiders.



Tinta Lusa:
Como definirias a intervenção de cada um, ou seja, que analogia podes fazer com cada membro da equipa?
Ossos:
O Hugo é sem dúvida alguma o motor que põe a equipa a andar, é indescritível o que ele faz, arranja, mexe para que tudo corra bem paintbolisticamente, é um "one man show" como todos o conhecemos, tem o mérito de conseguir fazer com que as coisas aconteçam.
O Tiago é calmo, o “relax”, é indescritível a boa vibração que emana e isso dá segurança à equipa. Ver o Tiago stressado no Paintball é coisa que não me lembro de ver, contra boas ou más equipas o Tiago tem sempre a certeza que ganha.
O Miguel é o sangue que nos corre nas veias… é um miúdo que se o deixarmos não dorme e não sai de dentro dos campos... É a alegria em pessoa, sempre a contar histórias, sempre a fazer das dele. Tem um bom coração e se não se "perder" vai ser um óptimo jogador.
O Gustavo é o coração é a dedicação em pessoa. Foi-lhe dada a oportunidade de jogar connosco em SPL mas foi frisado que tinha de ganhar o seu espaço. Ele aceitou e desde então dá tudo o que tem e o que não tem em prol da equipa, um dos momentos que me marcou esta época foi vê-lo jogar como titular em Londres, parecia que tinha novamente 15 anos, estava no céu.

Tinta Lusa:
Vou ser algo acutilante contigo, considerado como a humildade em pessoa, antes de te definires, lanço o repto a que o faças como se te visses de fora, tendo em mente que humildade a mais também é vaidade.
Ossos:
(risos) eu de fora vejo o Nuno como um elo de ligação entre todos.. Sou um bocado o braço direito do Hugo, dou tudo o que posso e faço sacrifícios (como todos) pela equipa. Acho que ao fim de tantos anos ganhei o meu espaço e tento não desiludir... principalmente a minha equipa.



Tinta Lusa:
Vamos “disparar” um pouco, que jogo foi o mais difícil nesta caminhada?
Ossos:
Tivemos vários, mas acho que a final de Londres fica na memória, por ter sido contra uma equipa que nos derrotou nas preliminares e que estava recheada de Russian Legions. Foi um jogo disputado taco a taco, ponto para cá, ponto para lá, e no final foi ganho por quem teve mais calma, mais experiência, por quem queria mais. Lembro-me de ir para o último ponto e quando nos cruzamos olhei bem nos olhos deles e eles viraram a cara, nesse momento tive a certeza que a vitória já estava do nosso lado.
Existe também um jogo que perdemos, falo no jogo que nos eliminou na Turquia, porque não foram eles que ganharam, fomos nos que perdemos. Estávamos desconcentrados, não controlávamos zonas, foi muito mau.



Tinta Lusa:
Ultima questão sobre esta campanha, tem-se falado muito nos vossos americanos, gostava de saber primeiro se efectivamente fazem a diferença e qual deles te surpreendeu pela positiva e porque?
Ossos:
Tivemos 3 americanos, Scott Kemp(LA Iroman) ALex Savino(Infamous) e Nicky Cuba(LA Ironman), o que me surpreendeu mais foi o Nicky, mas de todos foi o que se portou melhor, foi o mais consistente para alem de que é o mais humilde, ajuda-nos e tem prazer em ensinar, o Scott e o Alex iam para lá jogar e pouco mais.
E na minha opinião tanto o Alex como o Scott só fizeram uma prova realmente boa, de resto penso que em Portugal temos quem faça igual ou melhor.



Tinta Lusa:
Retrocedendo agora mais um pouco no tempo, vocês são indiscutivelmente a melhor equipa do Paintball nacional, em relação a última época achas que o nível tem descido? O que falta as equipas para fazer deste campeonato uma disputa mais renhida com o S.L.B? Sim, porque vocês realmente passeiam por terras lusas.
Ossos:
Eu precisamente acho o contrário, o nível tem vindo a subir em Portugal, as equipa têm treinado mais e melhor, temos tido algumas derrotas. Penso que o que falta às equipas em Portugal é experiência e experiência não é jogar há muito tempo. Desculpem a modéstia, dizem que sou dos jogadores mais experientes, mas só jogo a 5 anos. Existe, de certeza gente a jogar há muito mais tempo. A experiência ganha-se a jogar com e contra os melhores. É ir lá fora, é saber que temos de ganhar e não podemos "morrer" custe o que custar, penso que a nossa capacidade de aguentar a pressão ganha muitos jogos.
Quando esta tudo empatado e falta pouco tempo ou o ponto é decisivo, habitualmente cai para o nosso lado.
É natural, habituados a fazer o mesmo mas contra equipas cheias de Russian Legions, ou X-Factor, dá-nos outro traquejo. Sabemos o que fazer, como agir, como jogar.
Ir aos Millenniun’s ajuda imenso qualquer equipa que pretenda ganhar... mas quando digo ir aos Millenniun’s, não digo pagar os voos, ir para um hotel, jogar, arrumar as botas e vir para casa, não!, é acabar jogos e ir ver CPL, é ser eliminado da prova e não sair das bancadas, em vez de ir passear para a Downtown.
Em relação a ter equipas que dão luta, a uns tempos atrás fui a uma prova para terras do norte, o denominado TRN e ao fim de 15 minutos de lá estar disse ao Hugo, "é por isto que eles ganham jogos", e disse isso porque em 15 minutos houve 2 equipas irmãs que não se calaram um bocadinho só, brincavam, falavam, riam, notava-se cumplicidade, coesão e ate de certo modo carinho e protecção. É muito difícil derrotar uma equipa assim, porque antes de quererem vencer o jogo querem proteger o colega do lado, equipas assim há poucas e as que há ganham sempre. Claro esta que é dos metralhas que falo.



Tinta Lusa:
Existe uma questão pertinente perante o vosso sucesso, fala-se em irmandade, união de grupo, família… fora do Paintball e até porque estamos a falar de pessoas muito diferentes com hábitos sociais também diferentes, vocês estão juntos? Todas as semanas? Todos os meses? estão em contacto?
Ossos:
Realmente é pertinente. Não estamos todos juntos diariamente ou semanalmente, estamos todos quando há treinos, provas ou por uma outra ocasião remota. Mas por exemplo eu falo quase todos os dias com o Gil, e falo com o Hugo regularmente o Hugo mora com o Miguel e fala quase todos os dias com o Tiago, eu e o Gil vamos muitas vezes ao bar do Filipe, o Pires esta sempre pronto para tudo mas tem a faculdade. Portanto, vamos comunicando entre todos na mesma. Apesar de não estarmos juntos todos os dias ou semanalmente, 5 vezes por ano estamos 4 dias 24 horas dia, ou seja, nunca nos separamos e é inacreditável o que as relações evoluem nestes bocadinhos, se calhar sinto o Hugo mais um membro da minha família, já que é uma pessoa com quem estou todos os dias e já conheço à mais tempo.



Tinta Lusa:
Outra grande curiosidade, treinos, treinam todas as semanas?
Ossos:
Gostávamos e fazia-nos falta, para combater em pé de igualdade com as outras equipas lá fora que treinam com 70 caixas por fim de semana, nos treinamos com 10 e é de 15 em 15 dias. Mas tentamos aproveitar ao máximo estas 10 caixas, treinamos muitos drills, pequenas coisas que em campo fazem a diferença. É uma chatice treinar, eu sei, mas é muito bom ganhar, portanto fazemos um ou 2 jogos para aquecer e depois treinamos drills, ate à exaustão. Há muita coisa para treinar, muito sitio onde ir buscar informação, eu penso que a maioria das pessoas que jogam, não está disposta a entregar-se á parte chata do Paintball. Mas assim sendo também não se podem queixar da falta de resultados.



Tinta Lusa:
Deduzo, pelo que dizes, que não treinam indoor, por algum motivo especial? Qual é a tua opinião sobre o treino em indoor?
Ossos:
Não treinamos indoor em primeira instância porque não temos nenhum que seja barato e nós já temos muitas despesas. Mas acho que o indoor é um sítio muito bom para treinar, mas nunca jogo. Drills, movimentações, snap, tudo isso é óptimo, uma hora por semana dava-me um jeitão. Acho que quem tem possibilidades devia aproveitar ao máximo.



Tinta Lusa:
Para rematar esta entrevista, gostaria que me enviasses uma foto do S.L.B onde tu vejas a vossa força e que dediques umas palavras aos leitores do Tinta Lusa
Ossos:
Primeiro queria agradecer a oportunidade de falar no único blog de Paintball em Portugal que não se dedica a contar as notícias, mas sim à formação de quem quer aprender e crescer. Aos leitores do Tinta Lusa, espero que aproveitem esta fonte de conhecimento e apliquem a vocês e às vossas equipas, eu já aprendi com este blog e estou sempre ansioso pelo Post seguinte, é um dos meus clicks diários. Informação em quantidade e com qualidade é de louvar este trabalho.

Tinta Lusa:

Obrigado Ossos!
TO BE CONTINUED

2 comentários:

Shupaputa disse...

Aqui temos um post que põem as coisas faladas até agora em perspectiva.
Teoria - Prática.
Um grande abraço ao Ossos pela disponibilidade e um grande abraço ao Raúl por seguir o exemplo do Abraham Lincoln, tendo como objecto de trabalho o desenvolvimento das equipas de paintball portuguesas.

Raúl Tavares disse...

Obrigado, Barata, efectivamente o Ossos é de uma disponibilidade total. Esperemos que os mais novos "o aproveitem".

Abraço grande,
Raúl